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EDITORIAL - INQUICE - n. 2 - MAIO DE 2000

Estamos de volta. Após quase seis meses de nossa última aparição e pouco mais de um ano de nossa estréia virtual, a Inquice - Revista de Cultura retorna ao prazeroso convívio de seus leitores e amigos. Ao longo deste período tivemos a oportunidade de interagir proveitosamente com pessoas da Bahia e de várias partes do país - e do mundo- com as quais pudemos trocar experiências, receber sugestões e nos beneficiar do saudável exercício da crítica enriquecedora e necessária. De tais experiências, temos extraído lições que apontam para a importância de nosso sistemático aperfeiçoamento e atualização em face das demandas de uma realidade em processo de permanente mudança. É o que nos estimula a buscar em cada número formas mais eficientes de comunicação com nosso público leitor atual e potencial; a explorar novas possibilidades de conjugação da palavra, da imagem e do som neste projeto que pretende estar sempre aberto ao diálogo e à criação. 

No intervalo que nos separa de nosso número anterior, assistimos às comemorações oficiais pelos "500 anos de Descobrimento do Brasil". Reservamos a cada um de nossos leitores a oportunidade de avaliar com plena liberdade a conveniência, o significado e a qualidade daquelas celebrações. Mas não podemos nos eximir de apreciar tal evento como uma clara expressão dos dilemas e das dificuldades que têm caracterizado a vida brasileira no curso dos últimos cinco séculos. O que dizer de uma comemoração que de sua concepção ao seu encerramento evitou o debate e a discussão sérias acerca do desenrolar de nossa história, do caráter de nossa formação social, do feitio de nossas instituições e da orientação de nossa economia? Como classificar um evento que alijou o talento e a inteligência brasileira, ignorando as universidades e silenciando sobre a vida e a obra daqueles que, na trajetória de nossas artes, delinearam os contornos do ser humano brasileiro. Como qualificar uma festa que, atualizando melancolicamente uma prática secular, suprimiu brutalmente a voz dos excluídos para que esta não perturbasse o divertido banquete das elites? Mas, acima de tudo, como resgatar o valor de uma produção que, na artificialidade de sua grandiloqüência kitsch, expôs o país ao ridículo diante da opinião pública internacional? Que cada um formule suas próprias conclusões. 

Para que não permitamos que a melancolia embace nossas esperanças, a edição da Inquice que ora apresentamos oferece ao leitor o resultado de nossos esforços (e de nossos colaboradores) desenvolvidos nos últimos seis meses. Abrimos com o registro do bem sucedido ato de lançamento de nosso número 2, ocasião em que pudemos finalmente reunir na capital baiana uma gama representativa da "família" Inquice. Nosso prolífico webmaster, fotógrafo e pesquisador social, Luciano Nascimento, compartilha os flashes e focos de sua câmara fotográfica em um ensaio que captura a cidade de Salvador em seu inexorável movimento. Na seção de poesia, Hannah Canaan nos exibe o lirismo e a sensibilidade de sua poesia. Nosso editor e pesquisador da cultura afro-brasileira Flávio Gonçalves dos Santos relata a organização e a resistência cultural das "nações" de africanos e libertos da Salvador imperial. Milton Moura, antropólogo e professor da UFBA, reflete com sutileza, rigor e vivacidade sobre as promessas de liberdades experimentada durante os dias do reinado de Momo. O imaginário de grupos subalternos da sociedade soteropolitana e suas representações sobre o belo são analisados por Christiane Souza, jovem cientista social baiana. Antonieta de Aguiar Nunes, professora universitária e profissional da memória, discute a posição do arquivista ante às novas tecnologias da informação. As formulações kardecistas sobre a doença mental são o objeto de análise de Gleide Sacramento, aluna de Ciências Sociais da UFBA, em seu artigo de estréia. Olívia Santana, pedagoga e ativista social, discute o controvertido tema da correlação entre diferença e igualdade nas relações de raça, classe e gênero. Ricardo Moreno, aluno do Mestrado em História da UFBA, resenha o livro Homens de Negócio: a interiorização da metrópole e do comércio setecentista, de autoria de Júnia Ferreira Furtado, Professora Adjunta do Departamento de História na Universidade Federal de Minas Gerais e Doutora pela Universidade de São Paulo. Meu artigo sobre Jörg Haider pretende aportar informações e elementos de interpretação para o entendimento do significado do retorno da extrema-direita ao poder no país natal de Adolf Hitler. Para o entretenimento qualificado do leitor da Inquice, selecionamos os mais recentes trabalhos das bandas soteropolitanas Inkoma e Guizzzmo - que expõe respectivamente a potência do hardcore e a ousadia experimental - e do compositor Felipe Radicetti, que refaz no Rio de Janeiro a magia melodiosa dos músicos das alterosas. 

Bem vindo ao novo número da Inquice!