EDITORIAL N. 1 É com grande satisfação que retornamos ao espaço virtual para apresentar o segundo número da Inquice – Revista de Cultura. Em tal ocasião, não poderíamos deixar de registrar a felicidade que nos foi proporcionada pela acolhida generosa e estimulante que o número 0 recebeu por parte de nossos leitores. Mensagens de elogio, incentivo e mesmo algumas críticas, sempre profundamente construtivas, nos chegaram da Bahia, de várias partes do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, etc.) e até do exterior (EUA, Israel), todas imbuídas do espírito de compreensão dos objetivos de nosso projeto editorial, conscientes de nossas dificuldades e limitações e encorajadoras de nossa audácia, inquietação e desejo de alcançarmos a meta de produção de uma revista eletrônica que seja a um só tempo útil e agradável, informativa e questionadora, rigorosa e acessível. Impulsionados por este propósito, temos tentado interagir com as forças vivas do mundo do trabalho e da cultura, diretamente na capital baiana e virtualmente no âmbito brasileiro e internacional. Exemplo prático de tal interface foi a organização conjunta com o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, da palestra do historiador afro-norte-americano John Hope Franklin sobre o tema: “Inclusão e exclusão racial na perspectiva do século XXI”, proferida no último dia 21/10/1999 no CEAO. Esperamos, no ano 2000, dar continuidade e multiplicar tais iniciativas, contribuindo assim para o enriquecimento do cenário intelectual baiano e o aprofundamento do debate de idéias. Mas não só de êxitos tem se caracterizado nossa trajetória. Alguns revezes e contratempos também têm comparecido periodicamente em nossa atuação, recordando-nos sempre o caminho que ainda falta percorrer para a consolidação plena de nosso projeto, revelando a amplitude de nossas carências e debilidades e enfatizando a imprescindibilidade do suporte de nossos leitores, amigos, aliados e parceiros para a continuação e desenvolvimento desta publicação eletrônica. Ademais, apesar da acolhida amplamente favorável recebida por nossa primeira edição, não logramos, naturalmente, alcançar a unanimidade. Por isso, recebemos não só felicitações, mas também hostilidade e gestos de má-vontade gerados seja pela incompreensão de nossos objetivos, seja pelo temor diante da novidade, seja pela divergência de perspectivas, absolutamente normais em uma sociedade democrática e pluralista como esta que devemos lutar para consolidar em nosso país. Acolhemos e acolheremos de bom grado a boa crítica, a crítica sincera e construtiva, na medida mesma em que somos os primeiros a reconhecer o quanto ainda precisamos nos aperfeiçoar, assim como pela aceitação óbvia do fato de que jamais seremos os donos da verdade. Repudiamos, porém, os ataques rasteiros e os atos agressivos de quem, na ausência de idéias, opta pela bravata, pela aleivosia e pela difamação, substituindo o argumento pela ofensa, a discussão pela altercação. O número 1 da Inquice aparece na virada do ano 2000. Ano eivado de projeções simbólicas e de celebrações problemáticas, que assinalam o fim do segundo milênio da civilização cristã ocidental, os 150 anos da extinção oficial do tráfico de escravos para o Brasil e os 500 anos do “Descobrimento” oficial de nosso extenso país. O exemplar que assinala nossa preparação para a experiência destes momentos, abre com a publicação do artigo da antropóloga Maria Hilda Paraíso, no qual se examina as proposições formuladas pelos intelectuais brasileiros do final do século XIX acerca da substituição do trabalho escravo pela mão-de-obra livre. Debate singularmente emblemático na medida em que ilumina aspectos da concepção de mundo das classes dirigentes brasileiras de então, particularmente no que se refere ao tratamento conferido às problemáticas negra e indígena, bem como aos projetos de “branqueamento” da sociedade brasileira cultivados no seio daquelas elites. A história do Brasil também é contemplada no artigo de Luciano Nascimento - personalidade multimídia, misto de webmaster, fotógrafo e historiador em formação - no qual são examinados relatos e imagens produzidos sobre a Guerra de Canudos. O psicólogo e pedagogo Juliano Souza Matos nos relembra a proximidade do século XXI e aponta novos desafios para a política no 3o milênio com seu artigo “Tecnologia, Política e Diversidade – futuro do ato político sem a mediação do discurso”. Dirceu Pereira, licenciado em História pela UCSal, traz à discussão um tema tão controvertido quanto crucial para todos os que se interessam pela compreensão da religiosidade baiana: o sincretismo religioso. Nosso artigo sobre o Timor Leste persegue dois objetivos: oferecer ao público leitor da revista informações elementares para uma compreensão inicial da tragédia que se abateu sobre aquele pequeno povo insular e apresentar elementos para uma crítica à postura de passividade culposa adotada pelo governo brasileiro diante daqueles eventos. A seção Impressões traz um texto de Daniela Luciana da Silva, dublê de rapper e aluna do curso de comunicação da UFBA, no qual o questionamento dos pressupostos ideológicos da celebração dos “500 anos de Descobrimento” se faz através da análise de uma redação produzida por “Robson”, um jovem pobre da periferia de Salvador. A jornalista Suzana Nazaré insere cor, beleza e alegria em nossas páginas, apresentando-nos a obra de Beth Souza, artista plástica soteropolitana da nova geração. Elias Sanchez, através de uma singela homenagem a Zé Keti, nos faz sentir a perda recente de um grande nome da cultura brasileira. Nosso instante lírico é propiciado pela presença de poesia e, inaugurando uma nova seção, disponibilizamos em mp3 e Real Audio o som de três jovens bandas baianas: Dois Sapos e Meio, CRAC! e Pulsa. Bom desfrute e até a próxima, |