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O MÉDICO E O MILITAR

Um moço muito estudioso
Quis a medicina abraçar,
Filho de um homem já idoso
E o irmão de um grande militar.

A seu pai muito lhe amava
Dele, afastar não queria,
Mesmo trabalhando quando curava
O vigiava, sempre, noite e dia.

Seu irmão, já diferente,
Quis p'ra guerra ir lutar.
Deixando seu pai paciente
Anos e anos a lhe esperar.

E o velho, toda tardinha,
A estrada olhava até escurecer,
Na esperança que ele tinha
De uma notícia, alguém lhe trazer.

Quantos anos se passaram,
Até que um dia afinal,
O fim da guerra alcançaram
E nas ruas fizeram um carnaval.

Diante de tanta alegria
O homem passa a preparar,
Uma grande festa n'aquele dia
Para o seu filho, homenagear.

A casa ficou superlotada
De gente e flores ornamentais,
Banda de música tocava
Festejando a volta do rapaz.

E, de repente, surge o General
Com muitas medalhas no peito;
Sendo elas alcançadas
Pelos seus grandes feitos.

E todos de pé aplaudem
Aquele bonito militar.
Mas, ele com austeridade
Faz a mutidão se calar.

A quem vocês aplaudem
Com esta alegria sem pá?
A mim, triste miserável
Que na vida só fez matar?

Pai! Por que todo este festejo
Para mim foi dedicado?
Se quando deveria ser
Para aquele ali sentado.

Você meu grande irmão,
Que tantos sofrimentos alivia;
Enquanto eu, sem razão,
Provoquei dores noite e dia.

Crianças, moços, velhos
Não tinha idade p'ra matar,
Era um verdadeiro inferno
Na terra de Geová.

Tantas vezes, quando dormiam
Aquelas pobres criaturas,
O fogo em suas casas destruíam
Laborando tudo nas alturas.

Enquanto isso, vós estavas
Noites e noites sem parar,
Dando a sua própria vida
Para outras vida salvar.

Vejam! Festas dedicadas
A um homem que não sente
Em ver a terra banhada
Com sangue de inocente.

E aquele General austero
Que nunca se humilhou
Ajoelha diante do médico
E beija as mãos do doutor.

Recebe, oh Deus da medicina
As medalhas que trago comigo,
Ganhei por vidas ter tirado
E lhe entrego por vidas ter devolvido.

 

Maria Nélia Passos Carvalho